CONSELHO NACIONAL DE DESPORTOS
Assunto: Parecer sobre a Capoeira-Desporto.
PARECER
Constitui falha irremediável, para qual não encontramos desculpas, o fato de havermos praticado durante muito tempo e, quando maior se tornou, entre nós, o interesse pelos desportos, termos deixado ao abandono o destino da nossa Capoeira, folclore nacional e forma de luta tipicamente brasileira. Ela nasceu, cresceu e fez-se grande em nossa terra.
Considerada como própria de malandros e desordeiros, que aliás, dela se utilizavam sobre tudo no RIO DE JANEIRO, no RECIFE e na BAHIA, sofreu a Capoeira grande reação de parte das autoridades e classes cultas. No entanto, se tivesse sido convenientemente fomentada, dentro de princípios éticos, hoje em dia, sem dúvida, seria modalidade ginástica bastante praticada e, do ponto de vista utilitário-desportivo, excelente meio de ataque e defesa pessoal, tantas são as qualidades físicas e morais que a sua prática desenvolve.
No seu declínio, desprezada e sem regulamentação, o pouco que restou fixou-se quase exclusivamente no campo do folclore estilizado, sobretudo na Bahia, explorada por alguns espertos, que aproveitam da boa fé e entusiasmo dos turistas. Recentemente assisti a tais demonstrações, em frente ao Mercado Municipal de Salvador, sendo evidente o espírito comercial dos lutadores.
No seu declínio, desprezada e sem regulamentação, o pouco que restou fixou-se quase exclusivamente no campo do folclore estilizado, sobretudo na Bahia, explorada por alguns espertos, que aproveitam da boa fé e entusiasmo dos turistas. Recentemente assisti a tais demonstrações, em frente ao Mercado Municipal de Salvador, sendo evidente o espírito comercial dos lutadores.
Ao lado do Judô, do Boxe, do Karatê e de outras formas de luta, deve ser a Capoeira estimulada. Como desporto, ela apresenta no seu aspecto, um misto de semelhança com a luta francesa “Savate” e com a japonesa do “Karatê”, pelo fato de nela se aplicar, preferencialmente, os membros inferiores, embora importante seja o papel das mãos e da cabeça para bater nos adversários ou derrubá-los.
Na nossa opinião, para reabilitá-la como forma de luta, através de um grupo tarefa, instituído pela Confederação Brasileira de Pugilismo com a cooperação de outros grupos interessados, deve ser dado à Capoeira formas e regras desportivas. Como escola de flexibilidade e agilidade, salvo melhor juízo, cumpre que algo seja feito como no Karatê-desporto, dando-se pontos pela perfeição dos movimentos e atitudes de combatividade. Além disso, com base na ciência e na experiência, impõe-se o estabelecimento de programas racionais, onde serão pontualizadas as questões de ética desportiva, controle do treinamento, aprimoramento técnico e preparação física.
Ao grupo de trabalho caberá também o estabelecimento básico de um programa de propaganda, que os interessados procurarão divulgar pelos mais eficientes meios de comunicação. Além disso, sugiro que baseado neste parecer, ele solicite, por intermédio da Confederação Brasileira de Pugilismo, às escola de formação de pessoal especializado, associação desportiva, corpos de tropa, academias de cultura física e outros centros de atividades o interesse pela prática e aperfeiçoamento da Capoeira-desportiva.
Resumindo tudo o que foi expresso, sou do parecer que cabe a Capoeira, prática legítima nacional, após convenientemente reformulada, um lugar ao lado dos outros desportos. Bem orientada e dentro dos princípios da ética, desde já, nenhum obstáculo deve ser posto à sua prática. Com o correr do tempo, após adequada estruturação e melhor compreensão do assunto, poderá ser ela integrada, conforme previsão existente no Estatuto da CBP, entre os desportos que devam ser assistidos e incrementados pelos órgãos governamentais, organizando-se em entidades competitivas e contribuindo, desta maneira, para a prática educacional e desportiva do nosso País.
Além do Ministério da Educação e Cultura, deve ser dado ciência deste parecer a CBP, entidade máxima dos desportos de luta, e a SENAVOX* academia donde é oriundo o presente processo.
Rio de Janeiro, GB, 26 de julho de 1972.
Rio de Janeiro, GB, 26 de julho de 1972.
Gen. Jayr Jordão Ramos
Conselheiro Relator
Conselheiro Relator
*Obs.: O nome correto da academia é SENA VOX. O nome errado foi mantido por se tratar de uma cópia do documento original.
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